“Sinto-me torto”, ” Estou a ficar corcunda” , “Estou preocupado com a minha postura”.

A postura pode ser definida como a posição assumida pelo corpo em relação à gravidade e ao ambiente envolvente. De ponto de vista meramente orgânico, ao contrário do que muitas pessoas possam pensar, a postura não é algo estático e imutável, ela envolve pelo contrário, uma interação complexa e permanente entre os sistemas musculoesquelético, neuromuscular e sensorial do corpo humano. A primeira ideia que pretendo deixar é essa mesma: a postura é dinâmica e mutável: dinâmica porque envolve a capacidade do corpo de ajustar e adaptar-se às exigências do ambiente e às atividades realizadas no dia a dia; mutável porque pode mudar com o tempo, dependendo de fatores como a idade, a saúde, o nível de atividade física e os hábitos posturais adquiridos ao longo da vida. 

A segunda ideia a comentar é que a postura, do ponto de vista académico e até social, é na maior parte das vezes estudada e analisada somente no campo da biomecânica. E por isso, segundo a biomecânica, a postura ideal é extremamente difícil de atingir, uma vez que esta seria aquela em que as diferentes partes do corpo estão alinhadas de forma a distribuir uniformemente o peso corporal e minimizar o stress sobre as estruturas musculoesqueléticas. Isto significa que na dita vida real, a postura seria algo como (e só para enumerar alguns pressupostos):

A Postura Ideal do ponto de vista da Biomecânica: 

  1. Coluna neutra: A coluna vertebral deveria estar alinhada de forma neutra, com suas curvas naturais preservadas. Isso significa que as curvaturas naturais da coluna cervical, torácica e lombar deveriam ser mantidas, sem excesso de curvatura para a frente (lordose) ou para trás (cifose).
  2. Ombros relaxados: Os ombros deveriam estar relaxados e nivelados. Teríamos que evitar ter os ombros em rotação interna, como tantas vezes observamos uns nos outros, estando constantemente a fazer o movimento oposto.
  3. Cabeça alinhada: A cabeça deveria estar alinhada com a coluna vertebral, sem nenhum tipo de deslocações, nem para a frente, nem para trás.
  4. Abdômen contraído: O abdômen deveria estar sempre ligeiramente contraído para oferecer suporte à coluna lombar e manter uma boa estabilidade ao nível do nosso centro corporal. 
  5. O Peso deveria estar distribuído uniformemente: ao ficar de pé, o peso do corpo devia ser repartido igualmente pelos dois pés, com os joelhos levemente dobrados e os pés alinhados com os ombros.
  6. Postura ao sentar: ao sentar-se, teríamos que manter os pés sempre apoiados no chão ou em um apoio para os pés, com os joelhos e a anca em flexão e num ângulo de aproximadamente 90 graus. 

Podia continuar a enumerar uma série de condições para cumprirmos o objetivo inatingível (creio eu) da “postura ideal”, mas acho que é suficiente para passar a minha mensagem. Partindo apenas do conhecimento da biomecânica, a maioria de nós “está a ficar torto”, “está a ficar corcunda”, “está desequilibrado”. No entanto, a postura não deve ser estudada de uma forma “estanque”, apenas do ponto de vista biomecânico. A postura também deve ser investigada e analisada à luz da fisiologia, da ergonomia, da psicologia e até da antropologia. Daí preferir em consulta falar mais de hábitos posturais do que propriamente em postura. Interessa-me perceber os padrões repetitivos de posicionamento e movimento do corpo de uma pessoa ao longo de um dia de 24 horas e também ao longo de um período de tempo maior. Esses hábitos são desenvolvidos a partir de uma combinação de fatores, incluindo influências genéticas, experiências de vida, atividades diárias e ambiente de trabalho.

Duas palavras chave ganham vida: consciência: do corpo, das estruturas que o compõem, dos seus gestos, das suas limitações, do seu potencial e movimento: a vida é dinâmica, a postura também deve ser dinâmica. O ser humano não nasceu para estar parado numa determinada posição, seja ela qual for. Temos o ADN do movimento inscrito na nossa história e nas nossas células. Por isso, aqui ficam alguns pontos a considerar para contrapor com o que foi dito anteriormente:

A Postura Ideal do ponto de vista prático, do dia a dia

  1. Movimento como Antídoto para uma dada postura prolongada: O nosso corpo foi projetado para se mover. Ficar na mesma posição por longos períodos pode levar à rigidez muscular, diminuição da circulação sanguínea e compressão das articulações. O movimento regular ajuda a combater os efeitos negativos da inatividade, mantendo os nossos músculos flexíveis, melhorando a circulação e promovendo a saúde das articulações.
  2. Variabilidade Postural: Em vez de nos concentrarmos  em manter uma única postura estática, é importante incorporar variabilidade postural ao longo do dia. Isso significa alternar entre diferentes posições, como estar de pé, sentado em uma cadeira ergonómica, utilizar uma bola de exercício ou até mesmo trabalhar em pé com uma mesa ajustável em altura. Mudar de posição com frequência ajuda a distribuir o stress sobre o corpo de forma mais uniforme e reduz a carga em áreas específicas.
  3. Intervalos de Movimento: É recomendado fazer pausas regulares para se levantar, alongar e mover o corpo ao longo do dia.  Esses intervalos de movimento podem ajudar a prevenir a fadiga muscular, melhorar a circulação e revitalizar a mente. Mesmo breves caminhadas ou simples alongamentos podem fazer uma grande diferença na forma como nos sentimos e na nossa produtividade.
  4. Atividade Física Regular: é importante incorporar atividade física regular à nossa rotina. O exercício aeróbico, o treino de força e os exercícios de flexibilidade têm benefícios significativos para a saúde física e mental. Eles fortalecem os músculos, promovem a saúde cardiovascular e ajudam a reduzir o stress.

É crucial compreender que não existe uma postura única e ideal que se aplique a todas as pessoas em todas as situações. O corpo humano é uma unidade dinâmica e muito adaptável a todo o tipo de posturas. Em vez de procurar uma postura perfeita, devemos olhar para os nossos hábitos posturais, devemos incorporar o movimento e a diversidade de posições ao longo da nossa rotina e procurar obter uma maior consciência corporal. Ao cultivar uma maior consciência dos nossos próprios hábitos posturais e dos sinais que o nosso corpo nos dá, podemos fazer escolhas mais saudáveis para nós mesmos. As consultas de Osteopatia são uma excelente oportunidade para isso.

 
 
 
 
 
 

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