A Osteopatia na dor

A dor é uma experiência universal, um fenómeno complexo que envolve tanto uma componente física como emocional. A dor é frequentemente definida como uma resposta sensorial e emocional desagradável associada a um estímulo nocivo real ou potencial dos tecidos. E tem uma caraterística especial: é uma experiência extremamente pessoal, íntima, particular de cada um. Nós, osteopatas, sabemos bem disso.

Existem diferentes tipos de dor, mas estas são classificadas principalmente em duas categorias: aguda e crónica. A dor aguda geralmente tem uma causa identificável e serve como um mecanismo de alerta para o corpo, indicando danos ou lesões iminentes. É um fenómeno temporário, que geralmente vai diminuindo à medida que a condição subjacente é tratada. Por sua vez, a dor crónica é caracterizada por persistir para além do período esperado para a cura. Ao contrário da primeira, que é uma resposta normal do sistema nervoso a um estímulo nocivo, a dor crónica prolonga-se por períodos prolongados, muitas vezes meses e até anos. A definição de dor crónica é baseada não apenas no seu aspeto temporal, mas também no seu impacto na vida diária e na qualidade de vida do indivíduo. Em relação ao aspeto temporal, a dor crónica é aquela que persiste por mais de 3 a 6 meses. Quanto ao impacto na qualidade de vida da pessoa, isso pode incluir restrições nas atividades diárias, limitações na funcionalidade e interferência nas relações sociais e profissionais.

Os avanços recentes na pesquisa sobre a dor têm lançado luz sobre a forma como devemos olhar para esta temática e como deve ser gerida. A saber:  

  • A neurobiologia da dor: a compreensão das vias neuronais envolvidas na transmissão e modulação da dor, tem permitindo o desenvolvimento de terapias mais específicas;
  • As profissões de saúde não farmacológicas têm se demonstrado cada vez mais eficazes no alívio da dor: abordagens como a osteopatia, a fisioterapia e a acupuntura são cada vez mais aceites por parte da comunidade científica e estão a ser integradas pelos profissionais de saúde como formas complementares ou alternativas aos analgésicos tradicionais;
  • A neuroplasticidade, isto é, a compreensão de como o cérebro se adapta à dor (sobretudo à dor crónica) tem levado ao desenvolvimento de intervenções direcionadas à neuroplasticidade para aliviar sintomas persistentes.
  • Abordagens Personalizadas: A pesquisa em genética tem destacado a variabilidade individual na perceção da dor, permitindo estratégias de tratamento mais personalizadas.

A abordagem da osteopatia, como prática terapêutica centrada na manipulação física e nas diversas técnicas de tecidos moles destinadas a restaurar o equilíbrio do corpo, tem sido objeto de estudos científicos que buscam avaliar sua eficácia no alívio da dor. O tratamento manipulativo osteopático demonstrou-se eficaz na dor lombar, (Association, 2016; Franke et al., 2014; Licciardone et al., 2005), em condições pediátricas (Cerritelli et al., 2013; Lanaro et al., 2017), e ainda na dor cervical (Franke et al, 2015).

Em todos os estudos, os resultados indicaram melhorias significativas na intensidade da dor, amplitude de movimento e funcionalidade após a intervenção osteopática, sugerindo benefícios tangíveis para os pacientes e mensuráveis para os profissionais de saúde. Além da dor musculoesquelética, existem vários ensaios clínicos experimentais que permitem perceber o benefício potencial do tratamento osteopático em condições como as enxaquecas e as cefaleias de tensão (dores de cabeça). No entanto são necessários estudos mais robustos que permitam generalizar estas conclusões.

Os artigos citados acima fornecem uma visão valiosa sobre a eficácia da osteopatia na gestão da dor, destacando a importância desta abordagem como uma opção terapêutica. No entanto, é essencial observar que os resultados podem variar entre os indivíduos, e a consulta com um profissional qualificado é crucial para determinar a abordagem mais adequada para cada caso.

Em conclusão, a osteopatia emerge como uma abordagem eficaz no alívio da dor, com uma base crescente de evidências científicas que validam os seus benefícios. Os estudos demonstram melhorias significativas na dor musculoesquelética e também noutras condições. A continuidade das pesquisas e a colaboração entre profissionais de saúde são fundamentais para a evolução constante desta área e para fornecer opções terapêuticas eficazes para os nossos pacientes. 

 

Referências Bibliográficas:

 

Association, A. O. (2016). American Osteopathic Association Guidelines for Osteopathic Manipulative Treatment (OMT) for Patients With Low Back Pain. Journal of Osteopathic Medicine, 116(8), 536-549. https://doi.org/10.7556/jaoa.2016.107

Cerritelli, F., Pizzolorusso, G., Ciardelli, F., La Mola, E., Cozzolino, V., Renzetti, C., D’Incecco, C., Fusilli, P., Sabatino, G., & Barlafante, G. (2013). Effect of osteopathic manipulative treatment on length of stay in a population of preterm infants: a randomized controlled trial. BMC Pediatrics, 13(1), 65. https://doi.org/10.1186/1471-2431-13-65

Franke, H., Franke, J.-D., & Fryer, G. (2014). Osteopathic manipulative treatment for nonspecific low back pain: a systematic review and meta-analysis. BMC Musculoskeletal Disorders, 15(1), 286. https://doi.org/10.1186/1471-2474-15-286

 

Franke, H., Franke, J., & Fryer, G. (2015). Osteopathic manipulative treatment for chronic nonspecific neck pain: A systematic review and meta-analysis. International Journal of Osteopathic Medicine, 18, 255-267. https://doi.org/10.1016/J.IJOSM.2015.05.003.

Lanaro, D., Ruffini, N., Manzotti, A., & Lista, G. (2017). Osteopathic manipulative treatment showed reduction of length of stay and costs in preterm infants: A systematic review and meta-analysis. Medicine, 96(12), e6408. https://doi.org/10.1097/md.0000000000006408

 

Licciardone, J. C., Brimhall, A. K., & King, L. N. (2005). Osteopathic manipulative treatment for low back pain: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. BMC Musculoskeletal Disorders, 6(1). https://doi.org/10.1186/1471-2474-6-43

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